Quando meu marido e eu voltamos de Nova Iorque para definitivamente morar no Brasil, eu estava grávida de minha filha Jessica. Queríamos comprar uma casa em Porto Alegre, mas em um bairro onde vigorasse tranqüilidade, cuja natureza fosse abundante e onde houvesse arquiteturas harmoniosas e com um toque de elegância. A essas características, adicionamos outro critério fundamental: o bairro deveria dispor de todo o conforto que a modernidade nos proporciona (bons supermercados, lojas, bancos, clínicas de saúde, etc), de modo a não termos a necessidade de nos deslocarmos para outros bairros.
Seria possível encontrar ainda dentro de uma Porto Alegre contemporânea um bairro com corpo hodierno mas alma provinciana.
Visitamos mais de 100 casas à venda, em diferentes bairros. Confesso que foi amor à primeira vista quando circulei pelo centro e pelos altos da Tristeza. Nunca vou me esquecer daquele ar praiano, dos cordiais velhinhos do bairro, sentados em frente as suas casas, e das crianças felizes que jogavam bola nas calçadas. Lembrei-me de minha infância e compreendi que ali se encontrava "um bairro alegre por todas as tradições e estranhamente triste pelo nome" (Ary Veiga Sanhudo).
O bairro Tristeza poderia se chamar Alegria, mas creio que ‘tristeza’ descreve exatamente o sentimento nostálgico e hermético que nos invade ao sentarmos nos bancos da Praça Com. Souza Gomes para admiramos a Paróquia Nossa Senhora das Graças, que humildemente se posiciona no coração do bairro...
Naquele clima interiorano, fica fácil de esquecer que na Tristeza, igualmente a outros bairros, se reverberam contratempos estruturais, como ruas sem calçamento, o “Parque da Padaria” invadido por moradores de rua, a falta de sinaleiras para pedestres na Avenida Wenceslau Escobar, e o pior, a ausência de ciclovias que nos conduzam seguramente à soberba paisagem do Guaíba!
Então, enquanto o sol se põe, ao tocar do sino, e minha filha brinca feliz na pracinha, meu coração se enche de alegria e me ponho a imaginar os ‘d’ ouros’ tempos em que a criançada pescava muçum nos açudes do bairro, ou quando o trenzinho passava pela Estrada de Ferro do Riacho, a apitar trazendo casais de namorados sedentos por águas límpidas e tranqüilas. Ah, que misteriosos encantos se escondem por de trás de toda Tristeza!
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Obrigada. Por um mundo mais solidário!