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Psicologia Social, Cinema e Saúde: pinceladas das atividades de extensão do "Olhares sobre álcool e outras drogas"

Hoje vamos dar umas pinceladas sobre o que tem sido as atividades do “Olhares sobre álcool e outras drogas”, do Projeto de Extensão “Psicologia Social, Cinema e Saúde: circulo de estudos e análise critica e compartilhada de filmes/documentários”. A partir dos objetivos do projeto, essas atividades de extensão eram para ser um Ciclo de Cinema, onde trabalharíamos em alguma comunidade de Santa Maria os filmes que vimos durante os encontros do grupo.
Foi muito difícil encontrar um espaço, um local onde seria possível entrar em contato com comunidades mais vulneráveis economicamente longe do centro, dos locais onde estávamos acostumados a frequentar. Demoramos muito tempo, até que conseguimos, através da ONG Infância-Ação, um contato com o Projeto Gente Feliz, desenvolvido pelo Colégio Coração de Maria, na Vila Maringá. Esse projeto abarca oficinas e atividades para crianças, adolescentes e mulheres da comunidade. A principio, entramos em contato com a assistente social do colégio que trabalha no projeto, sendo muito bem recebidos e encorajados por ela. Logo estabelecemos uma parceria.
Estava tudo perfeitamente organizado, até que nos demos conta de que a faixa etária dos filmes que passaríamos era muito alta para crianças e adolescentes assistirem (o público alvo do Projeto Gente Feliz). Não poderíamos mais nos utilizar dos filmes trablhados no grupo de estudos, mas também não queríamos deixar de realizar a atividade por conta disso (já que estava em cima da hora para escolhermos outros). Então, decidimos trabalhar com outras peças midiáticas: propagandas sobre drogas. E foi assim que aconteceu o nosso primeiro encontro com a comunidade da Vila Maringá.  
Inicialmente, tivemos um certo medo do local. Muitas reportagens sobre a Vila aparecem nos jornais, falando sobre o tráfico de drogas, a violência. Até comentamos que projetos da medicina foram cancelados no local por conta do perigo. Obviamente isto nos afetou, estávamos um tanto quanto inseguros de ir sozinhos de ônibus. Por isso combinamos de ir em grupos ou duplas. Chegando lá, vimos que as coisas nem sempre são da forma como a mídia pinta. O local era pobre, parecia uma zona rural, porém, tinham crianças brincando na rua, pessoas indo trabalhar, uma vida aparentemente como a nossa.
O primeiro encontro foi no dia 03 de Setembro destde ano, tendo em média uns 15 adolescentes participando. Foi um tanto quanto assustador no início, pois lidar com adolescentes nos parece ¢ sempre mais complicado. Não por eles serem “problemáticos” como dizemos por aí, mas por sua natureza questionadora, nem sempre colaborativos. Ainda sim, eles foram muito educados, e até mesmo atenciosos, entrando no clima de nossas atividades. Fizemos uma dinâmica de grupo, passamos algumas propagandas contra drogas, tivemos muitos questionamentos em relação ao que é droga, o que é lícito e ilícito, porque algumas podem ser consumidas e outras não, se existe tratamento para todas...ou seja, a idéia foi fomentar o posicionamento crítica em relação às drogas.
Em nosso segundo encontro, fomos até o local juntamente com a professora-coordenadora do projeto. Os participantes fizeram algumas perguntas sobre drogas em papéis, e depois leram e responderam em conjunto com o grupo, a partir da dinâmica da bolinha - alguém lia a pergunta, passava a bolinha para o outro responder. Depois, propomos uma gincana (o prêmio era um saco de balinhas), onde os participantes se dividiram em meninas e meninos, e fizeram um fanzine, enquanto observávamos e ajudávamos na confecção. No fim, ambos produziram ótimos fanzines e ambos foram premiados, até mesmo um poema foi feito em um deles, alguns questionamentos em relação ao que é droga, o que não é, o legal x o ilegal.  
A partir deste contato com a comunidade, ainda mais uma tão jovem, composta por crianças e adolescentes, percebemos o quanto precisamos nos preparar para criar um espaço de compartilhamento, de questionamento, de perguntas em relação as temáticas que queremos abordar. É muito mais fácil nos retraírmos e ocuparmos uma posição de “saber”, dando informações, “palestras” em relação aos assuntos abordados, ao invés de problematizar de forma crítica as temáticas. Fomentar a discussão, o pensamento crítico, é muito difícil. Nos tira da posição de conforto que sempre buscamos quando entramos em contato com realidades diferentes das nossas.
Acredito que esta experiência seja muito enriquecedora para nós, além de ser para comunidade participante. Pois temos que sair desse lugar comum, temos que tentar de alguma forma possibilitar um espaço de questionamento das verdades dadas, dos discursos, da forma como se fala de drogas hoje, a partir das vivências desses jovens oriundos de uma comunidade que experiencia a realidade de uma forma diferente de nós, mais conhecimento sobre a mesma do que nós, que estudamos esse tema.



Texto escrito por Mirela Frantz Cardinal

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