23:12
Guilherme, após
minha fala no evento da Perrone, questiona via face:
Olá Profª! Não nos conhecemos. Sou um
dos "14 desconhecidos" presentes em sua palestra na Jornada sobre
Trabalho e Contemporaneidade hehehe Uma das coisas que mais me chamou a atenção
na sua fala, foi quando a senhora disse que considerava as mulheres como uma
minoria. Que inclusive, tu coordenavas um grupo de estudo que partia dessa
proposição frente ao feminismo e as mulheres. É isso né? Me corrija se estiver
enganado.
Fiquei pensando até que ponto podemos considerar, atualmente, as mulheres enquanto minorias. Sendo que a meu ver, na contemporaneidade, as mulheres conseguiram se impor e possuem uma participação ativa consolidada (a senhora mesmo, enquanto professora, me exemplifica isso). Elas são influentes, se apropriaram de quase todos os campos de trabalho, entraram nas universidades e até, muitas vezes, deixaram os homens para trás em diversos sentidos. Inclusive assumindo responsabilidades que antes eram exclusivamente dos homens, como sustentar a casa por exemplo. Acho tudo isso muito importante e necessário! E até por isso, creio que podemos falar em uma crise da masculinidade...Onde o homem se sente deslocado e perdido frente a essa abrangência feminina. O homem parece não saber mais qual o seu lugar e sua função. O Alfredo Jerusalinsky reflete sobre isso. Por isso a minha surpresa frente a afirmação de que as mulheres seriam uma minoria. Essa foi uma das provocações que a sua fala me despertou. Perdoe-me pela petulância de vir lhe perguntar via Facebook, sendo que talvez o momento mais apropriado para isso fosse justamente o debate após a palestra. Creio que a timidez tenha me impedido de questioná-la no momento certo. Vou entender perfeitamente se quiseres deixar essa conversa para uma próxima oportunidade, num próximo encontro.
Obrigado pela atenção,
Att. [Publicação autorizada por Guilherme]
Fiquei pensando até que ponto podemos considerar, atualmente, as mulheres enquanto minorias. Sendo que a meu ver, na contemporaneidade, as mulheres conseguiram se impor e possuem uma participação ativa consolidada (a senhora mesmo, enquanto professora, me exemplifica isso). Elas são influentes, se apropriaram de quase todos os campos de trabalho, entraram nas universidades e até, muitas vezes, deixaram os homens para trás em diversos sentidos. Inclusive assumindo responsabilidades que antes eram exclusivamente dos homens, como sustentar a casa por exemplo. Acho tudo isso muito importante e necessário! E até por isso, creio que podemos falar em uma crise da masculinidade...Onde o homem se sente deslocado e perdido frente a essa abrangência feminina. O homem parece não saber mais qual o seu lugar e sua função. O Alfredo Jerusalinsky reflete sobre isso. Por isso a minha surpresa frente a afirmação de que as mulheres seriam uma minoria. Essa foi uma das provocações que a sua fala me despertou. Perdoe-me pela petulância de vir lhe perguntar via Facebook, sendo que talvez o momento mais apropriado para isso fosse justamente o debate após a palestra. Creio que a timidez tenha me impedido de questioná-la no momento certo. Vou entender perfeitamente se quiseres deixar essa conversa para uma próxima oportunidade, num próximo encontro.
Obrigado pela atenção,
Att. [Publicação autorizada por Guilherme]
Olá, Guilherme,
o Face pode (e deve)
ser usado para isso também. E não só para bobagens, penso eu. Pode ser um
território de discussão política de modo argumentativo, ético e propositivo...
Gostei muito de teu
questionamento. Concordo plenamente contigo quanto às mulheres serem influentes (todos somos, de acordo com a
teoria de Serge Moscovici, no Psicologia das Minorias[1]),
elas se apropriaram de quase todos os campos de trabalho e já podem cursar qualquer curso nas
universidades. Porém, elas ainda têm salários BEM inferiores, no geral, como
mostrei na palestra. Elas são em menor número naqueles cursos mais disputados,
diga-se de passagem, os que revertem numa melhor numeração. Uma pesquisa na UFRJ e USP mostrou que apesar da maior participação no
sistema brasileiro de Ciências e tecnologias, as mulheres têm chances menores
de sucesso e ascensão na carreira: são menos contempladas com bolsas de
produtividade do CNPq, estão sub-representadas nos cargos administrativos da
UFRJ e entre os acadêmicos da Academia Brasileira de Ciências[2].
Ainda, quanto à
participação consolidada, não sei a que ponto se refere, mas tomemos a política
como ilustração: apesar de comemorar em 2012 os 80 anos da conquista do voto
feminino, a representação política das mulheres brasileiras não chega a 10% do
Congresso. São 46 deputadas e 10 senadoras, num universo de 594 cadeiras[3].
Assim, quando me
refiro que as mulheres ainda são minorias não estou me referindo a números.
Esse é um modo de entender minorias. Entendo minorias como um dispositivo
simbólico que é ativado por pessoas ou grupos de pessoas que sofrem com as
injustiças sociais de modo sistemático. A palavra “sistemático” é importante
aqui, pois TODOS sofremos injustiças algum dia na vida, mas quando emprego o
termo minorias me refiro a esse devir-minoritário que compõem territórios corporais-psicológicos, abstratos
e complexos, que cotidianamente são
vincados por relações de dominação, por discriminações, por silenciamentos...
Parafraseando Sodré (2005)[4],
“a noção contemporânea de minoria [...] refere-se à possibilidade de terem voz
ativa ou intervirem nas instâncias decisórias de poder aqueles setores sociais
ou frações de classe comprometidos com as diversas modalidades de lutas
assumidas pela questão social. Por isso são considerados minorias os negros, os
homossexuais, as mulheres, os povos indígenas, os ambientalistas, os
antineoliberalistas etc...” (p.11-12)
Assim, o conceito de
minoria, para mim, é um operador teórico de trabalho - ou uma categoria de análise, tal como a
categoria gênero – que dispara(-me), que movimenta(-me) na busca por um mundo
melhor, mais solidário, mais justo.
Obrigada por sua
pergunta. Ela me fez pensar mais ainda na força dessa expressão. Uma hora
dessas nos encontramos por ai de novo e não tenha vergonha de perguntar, certo?
E se você permitir, gostaria de colocar a sua pergunta na rede, retirando seu
nome em respeito a tua timidez. Acho que é uma pergunta importante e outras
pessoas devem ter ela no pensamento.
Abraços, Adriane
gosto de enfatizar as minorias. A expressão "maiorias" revela um "caldo" que esconde as singularidades. As minorias, de fato, são maioria em número. Há mais pessoas sofrendo com as injustiças no mundo do que a soma de quem se enquadraria na maioria.
gosto de enfatizar as minorias. A expressão "maiorias" revela um "caldo" que esconde as singularidades. As minorias, de fato, são maioria em número. Há mais pessoas sofrendo com as injustiças no mundo do que a soma de quem se enquadraria na maioria.
[1] Moscovici, S.
(2011). Psicologia das Minorias Ativas. Petrópolis: vozes.
[2] LETA, Jacqueline. As mulheres na ciência brasileira:
crescimento, contrastes e um perfil de sucesso. Estud. av., São Paulo, v. 17, n.
49, Dec. 2003 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142003000300016&lng=en&nrm=iso>.
access on 13 June 2013.
[3]
Informação disponível em http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/ULTIMAS-NOTICIAS/409834-POUCA-REPRESENTACAO-POLITICA-FEMININA-SERA-TEMA-DE-DEBATES-NO-DIA-DA-MULHER.html
[4] SODRÉ,
M. Por um conceito de minoria. In PAIVA, R. & BARBALHO, A. (orgs.),
Comunicação e cultura das minorias, PP.11-14. São Paulo, Paulus, 2005.
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