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Discurso das oradoras da 15a turma de Psicologia da UFSM

Discurso das oradoras da 15a turma de Psicologia da UFSM.
Psicólogas Nathiele Berger Almeida e Mariana Bassi.
Boa noite a todos e todas!
Hoje estamos comemorando e finalizando uma etapa muito importante de nossas vidas. Então, convidamos vocês a refletirem conosco sobre alguns questionamentos que nos acompanharam ao longo desses anos de formação. Iniciamos com a pergunta mais clássica de todas, e a que mais causava impacto enquanto pensávamos na resposta: por que escolhemos a Psicologia?
Não sabemos dizer se hoje temos essa resposta, mas podemos pensar na questão de outra forma: como alguém se torna psicólogo? O que diferencia nossa escuta de outras escutas cotidianas, o que nos torna tão sensíveis ao que nos é confiado e tão dispostos a encontrar caminhos juntamente com quem nos procura?
Um psicólogo certamente nasce a partir de questionamentos. Entramos na faculdade tão certos de tudo em que acreditávamos, tão seguros de nossas opiniões, tão convictos de que existia apenas um lado certo em diversas situações… E tudo desmoronou nos primeiros questionamentos, na primeira aula, nos primeiros confrontos aos quais fomos submetidos. Pequenas vivências que nos possibilitaram começar o processo de reavaliar todas as nossas verdades absolutas...
Momentos esses pelos quais nossos professores, tão cheios de experiências, foram capazes de nos conduzir com maestria, não apenas transmitindo um conteúdo, mas nos levando a descobertas próprias. Ao mesmo tempo, contamos com o companheirismo de alguns desses mestres fora das paredes do curso, que foi importante para o nosso desenvolvimento tanto quanto os textos e as teorias.
Como não lembrar dos olhos cheios de vida e bondade do Omar, que muito nos acolheu na sua sala para lágrimas, reclamações e risadas? Das frases marcantes do Sílvio, da delicadeza da Carol, da escuta da Samara, do acolhimento de mãe que a Adriane nos proporcionou, sendo generosa porém exigindo sempre o melhor…
Não estamos afirmando que nossos professores não têm defeitos, pelo contrário: conhecer os defeitos das pessoas e tomar o ser humano como imperfeito foi parte das primeiras lições que aprendemos.
Um psicólogo também nasce a partir de encontros. Ao longo de nossa caminhada profissional, se estivermos abertos a novos encontros e construções, nos tornamos como quebra-cabeças: levamos com nós uma parte de cada pessoa que nos confia suas dificuldades, suas singularidades, seus detalhes cotidianos, e assim vamos nos constituindo...
Aos nossos pacientes e às equipes responsáveis com as quais tivemos contato nas práticas de estágio, que confiaram em nossa ética e disposição, seremos eternamente gratos. Sem eles, não nos sentiríamos profissionais tão capazes como hoje nos sentimos.
Ainda, as oportunidades ajudam a tornar alguém psicólogo. Agradecemos àqueles que nos presentearam com elas, aos que foram capazes de nos ver não pelo que já havíamos feito ou deixado de fazer, mas pelas tentativas de nos encontrarmos dentro da imensidão que é a psicologia, pelo potencial de crescimento, pelo olhar cheio de vontade de fazer algo pelo outro.
Um psicólogo nasce, sem dúvidas, a partir das diferenças. E dessas nossa turma sempre esteve repleta… Sabemos muito bem que hegemonia e uniformidade não são palavras que têm a ver com nós. Discordamos em praticamente tudo ao longo desses anos, exceto quando havia um fator envolvido: a injustiça. Quando percebemos que nossa turma sofria em conjunto por algo que não era justo, que para nós não fazia sentido, fomos capazes de lutar juntos, propor juntos, e inclusive de organizar e executar um evento de sucesso! Nossas diferenças foram uma ótima escola para o aprendizado da tolerância, do respeito e do famoso “caminho do meio”, do qual sempre estivemos em busca.
Um psicólogo nasce também a partir da ajuda e do carinho de famílias, de amores, de amigos, de animais, de outros psicólogos. À nossa família de sangue: obrigada por diversas renúncias para que pudéssemos ter essa oportunidade, obrigada aos tantos pais que hoje se encontram aqui. À família que escolhemos por laços de afetos - os nossos amigos, pais ou mães de coração e de criação, e, claro, nossos amores: obrigada por terem escolhido nos acompanhar nessa jornada cheia de descobertas. Obrigada por entenderem os nossos lentos e difíceis processos de mudança, por serem estabilidade no meio do caos que tantas vezes se instaura quando estudamos psicologia.
Um psicólogo nasce de verdadeiras amizades. Cada um de nós se aproximou de alguns colegas durante esse trajeto, e fomos vistos inseparáveis uns dos outros de acordo com nossas afinidades, ou com algo que não sabíamos explicar. Desde o primeiro grupo, o primeiro olhar, o primeiro pensamento de “vamos fazer o trabalho com aqueles ali...”. Os lugares marcados nas salas de aulas, os grupos com suas características, as aulas que acabavam em choradeira e abraços, as pessoas que se uniram e, certamente, construíram laços de afeto que vão se perpetuar. A existência de pessoas especiais em nossos caminhos torna tudo mais florido! Quantas histórias para relembrar, desde os nomes que sempre eram ditos errados pelos professores, as piadas internas, as paródias musicais, as junções, os momentos de construção e descontração no DA, as viagens a eventos, os vídeos que jamais devem ser revistos, os memes da turma... Tivemos tanta criatividade nessas horas! Mas nas horas das inúmeras questões dissertativas nas provas, ah, nessas horas… parecia que a tal criatividade desaparecia. E no TCC? Dias e dias de bloqueio criativo.
A amizade e o companheirismo que construímos nos ajudaram a superar os momentos difíceis que a vida nos impôs nesses anos. Que sempre possamos encontrar pessoas tão companheiras e que amenizam o peso dos momentos difíceis...
Seria impossível, apesar da vontade, que hoje falássemos de cada um de vocês, nossos colegas. Por isso, optamos por agradecer a singularidade de cada um, os momentos que passamos juntos, as uniões e também as brigas, porque isso é o que nos tornou a turma que hoje somos. Obrigada, também, a todos os colegas que passaram por nossa turma e contribuíram de alguma maneira para nossa formação.
E hoje, enquanto oradoras, fomos confiadas com essa difícil tarefa de falar sobre a realização de algo que há muito sonhamos. Queremos retribuir essa confiança com um desejo: de que vocês, colegas, nunca esqueçam de ouvir com carinho e respeito, não esqueçam de quem éramos juntos quando a injustiça batia às nossas portas. E, se as coisas ficarem complicadas, que possamos contar uns com os outros e reencontrar aqueles jovens sonhadores que em menos de 24 horas escreveram tantas ideias na paredes do antigo DA.
Desejamos, ainda, que vocês possam compreender as diferentes realidades e que trabalhem sempre a favor da liberdade, do respeito, do autoconhecimento, do empoderamento e dos sentimentos leves que fazem a vida valer a pena. E que, quando o fardo de nossa profissão se tornar muito pesado, sejam humildes para parar, refletir, buscar ajuda, chamar os amigos para distrair o pensamento das situações que parecem impossíveis...
Não estudamos para sermos super-heróis, somos humanos; temos e teremos muitas falhas. Não carreguem o mundo nas costas, não desejem carregar. Aprendam a aceitar que todos temos limites, mas não se utilizem desse fato para não buscar mais conhecimento ou novas saídas. Desejamos que o caminho de cada um de vocês seja gentil, e que, se não for, os espinhos tragam crescimento.
Hoje nos separamos, mas não sem levar um pouquinho um do outro em nosso olhar, em nossa escuta, em nossos gestos. Para finalizar, se é que se pode finalizar uma despedida tão intensa, trazemos um pequeno fragmento de autoria de Osho, professor de Filosofia na década de 50 na Índia:
“Dizem que antes de um rio entrar no mar, ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada que percorreu, para os cumes, as montanhas, para o longo caminho sinuoso que trilhou através de florestas e povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto, que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano.
E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece, porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas de tornar-se oceano."
Agora somos oficialmente psicólogos, tomando rumos profissionais diferentes, mas sempre em busca de mais conhecimento. Desejamos sucesso a todos, e nunca esqueçam que somos dez (ou mais).
Obrigada!
💙

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