Carta às Minas e Aos Minos Feministas, a simpatizantes, a indecisos, àquel@s sem conhecimento da história, etc etc:
Tenho assistido alguns videos no youtube onde mulheres falam muito mal do feminismo, distorcendo totalmente a história e avacalhando com mulheres que lutaram pela nossa libertação. Elas se denominam anti-feminista, contra feminismo.
Também fiz parte de um grupo secreto no Facebook criado para as mulheres compartilharem suas experiências de opressão e buscarem ajuda umas com as outras para melhorarem as relações de gênero. Neste grupo, presenciei agressões, violência contra mim, contra outras mulheres e também contra homens. Uso de linguagem sexista, destrutiva, sem nenhuma intenção de realmente melhorar as relações entre homens e mulheres. Um simples desejo de pisar n@ outr@. A denúncia pela simples denúncia - o que certamente não leva à nada, não constrói relações saudáveis.
Além dessas mulheres não conhecerem a história do feminismo, esquecem que só estão podendo falar ali naquele espaço internáutico por que existiram mulheres que saíram às ruas para protestar contra as desigualdades e sofrimentos vividos pelas mulheres. Sim, estas mulheres "acusadas" de muitas coisas podem ter feito muitas coisas erradas. Tod@s fazemos, mas elas lutaram por nós e só reconhecer seus erros é o mesmo que dizer que um humano só vale pelos erros.
O feminismo é um movimento, protagonizado por mulheres, que nasceu com o questionamento das relações de poder, visando equidade entre os gêneros, de modo que as mulheres e TAMBÉM homens possam viver uma vida mais justa e boa. Sua ferramenta é o protesto, a resistência, a denúncia das opressões. Mas estas ferramentas só têm valor à medida que estejam em conjunto com o diálogo e a paz, por que se estas ferramentas forem utilizadas junto com violência a outra(s) pessoa(s) estarão contra os propósitos de um mundo mais justo para todas e todos nós. Assim, não será feminismo, mas FEMISMO - tal qual o machismo.
O movimento feminista começou com mulheres. Mas mulheres que convocaram os homens a se juntarem a elas na luta. Grande parte não quis aceitar, entender e fazer parte, pois implicava perder um lugar confortável. Mas, aos poucos, os homens também foram se somando, pois foram percebendo que esse lugar de um homem patriarcal, machista era um lugar-fachada, que no fim das contas gerava sofrimento em ambos. Se sua/seu companheir@ não está feliz, você também não conseguirá estar.
Deste modo, podemos dizer que mulheres e homens podem fazer parte desta luta por um mundo melhor para tod@s. Mulheres e homens que assim agirem e pensarem são feministas!
É importante lembrar que existe um movimento feminista que é "de rua", quer dizer, as mulheres foram se juntando, falando das suas opressões e se movimentando em busca de direitos iguais ao dos homens, primeiramente no campo político, na busca pelo voto. E, com o passar do tempo, outras questões foram se incorporando ao movimento protagonizado pelas mulheres (e tornado-o mais plural), como as questões relacionadas à saúde das mulheres, direitos sexuais e reprodutivos, mercado de trabalho, as especificidades das mulheres negras, lésbicas e assim por diante. Nem sempre de modo harmônico, já que nem todas as mulheres pensam e defendem exatamente as mesmas problemáticas, mas, no fim das contas, prevaleceu um entendimento entre as pessoas envolvidas.
Há também o feminismo dentro da academia (universidades, escolas) que estuda teoricamente o próprio movimento, seus avanços, seus problemas, seus desafios. E não há uma única teoria para olhar para o movimento, de tal modo que podemos falar que existem diferentes tipos de feminismo - feminismo liberal, radica, cultural, marxista e outros, mas não vou escrever sobre eles aqui nesse momento. (se alguém quiser saber um pouco mais sobre isso, escrevi um capítulo de livro que poderá dar algumas pistas sobre isso)*
É claro que se na academia tem diferentes modos de estudar o femininismo, não podemos ser ingênuas de pensar que só vai haver um modo de luta nas ruas e nos espaços diversos. Há mulheres mais ativas, mulheres que gostam mais de sair em manifestações públicas, outras que preferem protestar em ambiente da internet, nas redes sociais, outras que não protestam visivelmente, mas que no seu cotidiano criam mecanismos para mostrar as injustiças e fazer algo diferente, como ensinar seus filhos homens que eles devem respeitar as mulheres, dividir as tarefas domésticas etc. Cada uma a seu modo vai movimentando as lutas feministas, muitas vezes sem saber que são feministas ou autodenominarem-se feminista. E não é preciso, se assim preferirem. Eu, pessoalmente, gosto de dizer que sou feminista, como uma forma de lembrar que um dia as mulheres nem sequer protestavam publicamente (pois não podiam na sua solidão). Quando me denomino feminista sinto que estou acendendo pequenas faíscas nas pessoas, provocando questões.
Bem, somos todas singulares, cada uma com sua história, com suas dificuldades, com suas qualidades. Mas é importante deixar claro que, mesmo que alguém prefira não ser feminista nos dias de hoje, essa pessoa precisa saber que só podemos estar nas universidades em qualquer curso que desejamos, só podemos ir no cinema sozinhas, usar biquini e trabalhar em qualquer ramo por que, um dia, as mulheres disseram: BASTA! Queremos poder participar em tudo que quisermos e de modo justo.
Ora, é preciso reconhecer que o feminismo CONTINUA sendo necessário. Há mulheres que nunca poderão ir à universidade, há mulheres que são exploradas nos serviços domésticos inclusive por mulheres, há mulheres (se não todas) que não podem sair sozinha nas ruas de madrugada, há mulheres que são abusadas sexualmente e o juiz diz que "elas pediram"... há mulheres!
Assim, como comentou a Luiza Sbrissa na minha postagem de chamada para este texto no Facebook, "precisamos estar sempre revendo e repensando o que se entende e que se faz por "feminismo" e estar atent@s nos efeitos no nosso cotidiano. Tudo permeado por muito afeto, afinal é o que nos mobiliza. Seja para ter raiva, para ter coragem, para nos sentirmos identificad@s ou esperanços@s...e não é nada fácil fazer algo com tudo isso que se sente, mas que precisa ser feito em relação (isto é com outros, minas, minos...)!" Não podemos desistir e tomar a conquista como certa, segura. Todos os dias temos que nos reinventar nesse complexo, desafiante, constante movimento feminsita...
Muitos têm sido os discursos que desvalidam, desvalorizam e tentam silenciar o feminismo nos dias de hoje. Dizem que já conquistamos tudo que precisávamos. Não, não conquistamos. Dizem que só tivemos perdas com o feminismo pois os "filhos estão abandonados". Mas não perguntam porque os homens não podem partilhar do cuidado igualmente. Outros dizem que as feministas odeiam homens. Mas antes de acusar, não pensam por que será que algumas têm ódio? O que os homens fizeram a elas? O que nós, mulheres, deixamos de fazer por elas? Há ainda os que dizem que as feministas são todas lésbicas.E se fôssemos?! No que ser lésbica te agride, te incomoda? Qual teu medo? Por fim, há os que pensam que as feministas são agressivas, radicais, extremistas. Então, a quem pensar assim, aha! Estão muito enganad@s. Se alguém agir com violência, brutalidade, sem disponibilidade para o diálogo, com a intenção de destruir alguém, pode ter certeza: aí sim essa pessoa não deveria se auto-denominar feminista, mas, sim, fascista.
Tenho assistido alguns videos no youtube onde mulheres falam muito mal do feminismo, distorcendo totalmente a história e avacalhando com mulheres que lutaram pela nossa libertação. Elas se denominam anti-feminista, contra feminismo.
Também fiz parte de um grupo secreto no Facebook criado para as mulheres compartilharem suas experiências de opressão e buscarem ajuda umas com as outras para melhorarem as relações de gênero. Neste grupo, presenciei agressões, violência contra mim, contra outras mulheres e também contra homens. Uso de linguagem sexista, destrutiva, sem nenhuma intenção de realmente melhorar as relações entre homens e mulheres. Um simples desejo de pisar n@ outr@. A denúncia pela simples denúncia - o que certamente não leva à nada, não constrói relações saudáveis.
Além dessas mulheres não conhecerem a história do feminismo, esquecem que só estão podendo falar ali naquele espaço internáutico por que existiram mulheres que saíram às ruas para protestar contra as desigualdades e sofrimentos vividos pelas mulheres. Sim, estas mulheres "acusadas" de muitas coisas podem ter feito muitas coisas erradas. Tod@s fazemos, mas elas lutaram por nós e só reconhecer seus erros é o mesmo que dizer que um humano só vale pelos erros.
O feminismo é um movimento, protagonizado por mulheres, que nasceu com o questionamento das relações de poder, visando equidade entre os gêneros, de modo que as mulheres e TAMBÉM homens possam viver uma vida mais justa e boa. Sua ferramenta é o protesto, a resistência, a denúncia das opressões. Mas estas ferramentas só têm valor à medida que estejam em conjunto com o diálogo e a paz, por que se estas ferramentas forem utilizadas junto com violência a outra(s) pessoa(s) estarão contra os propósitos de um mundo mais justo para todas e todos nós. Assim, não será feminismo, mas FEMISMO - tal qual o machismo.
O movimento feminista começou com mulheres. Mas mulheres que convocaram os homens a se juntarem a elas na luta. Grande parte não quis aceitar, entender e fazer parte, pois implicava perder um lugar confortável. Mas, aos poucos, os homens também foram se somando, pois foram percebendo que esse lugar de um homem patriarcal, machista era um lugar-fachada, que no fim das contas gerava sofrimento em ambos. Se sua/seu companheir@ não está feliz, você também não conseguirá estar.
Deste modo, podemos dizer que mulheres e homens podem fazer parte desta luta por um mundo melhor para tod@s. Mulheres e homens que assim agirem e pensarem são feministas!
É importante lembrar que existe um movimento feminista que é "de rua", quer dizer, as mulheres foram se juntando, falando das suas opressões e se movimentando em busca de direitos iguais ao dos homens, primeiramente no campo político, na busca pelo voto. E, com o passar do tempo, outras questões foram se incorporando ao movimento protagonizado pelas mulheres (e tornado-o mais plural), como as questões relacionadas à saúde das mulheres, direitos sexuais e reprodutivos, mercado de trabalho, as especificidades das mulheres negras, lésbicas e assim por diante. Nem sempre de modo harmônico, já que nem todas as mulheres pensam e defendem exatamente as mesmas problemáticas, mas, no fim das contas, prevaleceu um entendimento entre as pessoas envolvidas.
Há também o feminismo dentro da academia (universidades, escolas) que estuda teoricamente o próprio movimento, seus avanços, seus problemas, seus desafios. E não há uma única teoria para olhar para o movimento, de tal modo que podemos falar que existem diferentes tipos de feminismo - feminismo liberal, radica, cultural, marxista e outros, mas não vou escrever sobre eles aqui nesse momento. (se alguém quiser saber um pouco mais sobre isso, escrevi um capítulo de livro que poderá dar algumas pistas sobre isso)*
É claro que se na academia tem diferentes modos de estudar o femininismo, não podemos ser ingênuas de pensar que só vai haver um modo de luta nas ruas e nos espaços diversos. Há mulheres mais ativas, mulheres que gostam mais de sair em manifestações públicas, outras que preferem protestar em ambiente da internet, nas redes sociais, outras que não protestam visivelmente, mas que no seu cotidiano criam mecanismos para mostrar as injustiças e fazer algo diferente, como ensinar seus filhos homens que eles devem respeitar as mulheres, dividir as tarefas domésticas etc. Cada uma a seu modo vai movimentando as lutas feministas, muitas vezes sem saber que são feministas ou autodenominarem-se feminista. E não é preciso, se assim preferirem. Eu, pessoalmente, gosto de dizer que sou feminista, como uma forma de lembrar que um dia as mulheres nem sequer protestavam publicamente (pois não podiam na sua solidão). Quando me denomino feminista sinto que estou acendendo pequenas faíscas nas pessoas, provocando questões.
Bem, somos todas singulares, cada uma com sua história, com suas dificuldades, com suas qualidades. Mas é importante deixar claro que, mesmo que alguém prefira não ser feminista nos dias de hoje, essa pessoa precisa saber que só podemos estar nas universidades em qualquer curso que desejamos, só podemos ir no cinema sozinhas, usar biquini e trabalhar em qualquer ramo por que, um dia, as mulheres disseram: BASTA! Queremos poder participar em tudo que quisermos e de modo justo.
Ora, é preciso reconhecer que o feminismo CONTINUA sendo necessário. Há mulheres que nunca poderão ir à universidade, há mulheres que são exploradas nos serviços domésticos inclusive por mulheres, há mulheres (se não todas) que não podem sair sozinha nas ruas de madrugada, há mulheres que são abusadas sexualmente e o juiz diz que "elas pediram"... há mulheres!
Assim, como comentou a Luiza Sbrissa na minha postagem de chamada para este texto no Facebook, "precisamos estar sempre revendo e repensando o que se entende e que se faz por "feminismo" e estar atent@s nos efeitos no nosso cotidiano. Tudo permeado por muito afeto, afinal é o que nos mobiliza. Seja para ter raiva, para ter coragem, para nos sentirmos identificad@s ou esperanços@s...e não é nada fácil fazer algo com tudo isso que se sente, mas que precisa ser feito em relação (isto é com outros, minas, minos...)!" Não podemos desistir e tomar a conquista como certa, segura. Todos os dias temos que nos reinventar nesse complexo, desafiante, constante movimento feminsita...
Muitos têm sido os discursos que desvalidam, desvalorizam e tentam silenciar o feminismo nos dias de hoje. Dizem que já conquistamos tudo que precisávamos. Não, não conquistamos. Dizem que só tivemos perdas com o feminismo pois os "filhos estão abandonados". Mas não perguntam porque os homens não podem partilhar do cuidado igualmente. Outros dizem que as feministas odeiam homens. Mas antes de acusar, não pensam por que será que algumas têm ódio? O que os homens fizeram a elas? O que nós, mulheres, deixamos de fazer por elas? Há ainda os que dizem que as feministas são todas lésbicas.E se fôssemos?! No que ser lésbica te agride, te incomoda? Qual teu medo? Por fim, há os que pensam que as feministas são agressivas, radicais, extremistas. Então, a quem pensar assim, aha! Estão muito enganad@s. Se alguém agir com violência, brutalidade, sem disponibilidade para o diálogo, com a intenção de destruir alguém, pode ter certeza: aí sim essa pessoa não deveria se auto-denominar feminista, mas, sim, fascista.
Adriane Roso
ROSO, A.. Mídia televisiva e imagens de mulher: quando vozes sutis nos falam. In: Strey, M., ;Mattos, F.; Werba, G.; Fensterseifer, G. (Org.). Construções e perspectivas em gênero. 1ed. Sao Leopoldo, RS: UNISINOS, 2000, v. 1, p. 75-88.
*
Comments
Post a Comment
Obrigada. Por um mundo mais solidário!