O suicídio é um grito desesperado de um resto de esperança...
Para mim, antes de ser psicóloga, já me questionava sobre como podia alguém tirar sua própria vida. Eu sempre amei viver e nunca tive sequer pensamentos no nível da consciência sobre tirar minha vida. Como poderia alguém fazer algo assim consigo mesma? Que dor era essa que era tão maior que a dor de tirar a vida?
A primeira pessoa que tomei conhecimento que havia tirado sua vida foi R. Ele tinha sido escoteiro, no grupo onde eu também participava. Era um rapaz loiro, alto, bonito. Pelo menos essa era a lembrança que eu tenho dele. Tirou sua vida pela via do enforcamento, via esta que parece ser muito comum e emblemática dessa prática humana.
Eu não o conheci de verdade. Nem lembro se conversei com ele algum dia. Mas aquele acontecimento rondava nossa infância, era um tabu, raramente ou nunca se falava sobre isso. Nem sei como fiquei sabendo.
Mas na casa onde ele tirou sua vida, ia algumas vezes ao ano, pois lá ficava um laboratório de exames clínicos. Toda vez que ia lá fazer exames, sempre pensava: Por que ele fez aquilo? Como pode fazer?
Nunca saberei as respostas...
Muitos anos depois, uma professora na UNISINOs sugeriu que a gente lesse o livro "Nunca lhe prometi um jardim de rosas", de Helen Green.
O livro consiste em um relato da experiência de uma adolescente que, após um longo processo de sofrimento, foi internada em um Hospital Psiquiátrico. Quando tentou cometer o suicídio, colocou um potinho ao lado do pulso, onde o sangue era "recolhido". Uma das interpretações da psiquiatra que a atendeu era que ela não queria morrer; que a tentativa de suicídio era um grito de socorro.
Nem preciso dizer que esse livro me marcou muito. Cheguei a levá-lo, um dia, na minha sessão de psicoterapia e sugerir a leitura para minha psicóloga.
De lá para cá (em torno do início dos anos 1990), soube de muitos casos de suicídio. Apenas um bem próximo a mim, de alguém que muito gostei, e que não foi considerado suicídio. Em outra ocasião contarei sobre isso...
Desde que entrei na UFSM, em 2008, várias alunas vieram até minha sala para falar sobre seus desejos de tirar a vida. Não foi 1, 2 ou 3. Foram muitas.
Os números de suicídio indicam um aumento entre a população jovem nos últimos anos. Não tenho certeza disso ou se hoje nos permitimos falar um pouco mais sobre isso... não sei...
Mas tenho certeza que ainda falamos pouco. Há um medo que nos ronda, desde sempre, sobre a morte.
Por que temos medo? Porque a morte do outro nos lembra da nossa mortalidade, da nossa finitude.
E o suicídio nos lembra da nossa capacidade de cessar a própria vida. Quer algo mais radical do que isso? É assustador o que um humano é capaz de fazer consigo mesmo e com o outro. Com o outro também, porque quando alguém tira a sua vida, também tira a vida de outra pessoa, mesmo que seja lentamente ou apenas cause uma ferida que vai consumir a vida do outro lentamente, inconscientemente...
(a continuar)
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Obrigada. Por um mundo mais solidário!