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E se fosse com você? Expondo a\o outra\o na internet



Recentemente (1\9\21), foi publicada uma matéria na BBC* mostrando a relação entre sofrimento psíquico e viralização de memes na internet. A manchete diz: "'Já acabou, Jéssica?': jovem abandonou estudo e caiu em depressão após virar meme". Na entrevista concedida, a  jovem Lara expõe uma experiência negativa que viveu no contexto escolar. Parte do ocorrido foi  divulgado na internet em formato de meme. As sequelas são intensas e afetaram-na fortemente e sua mãe igualmente.

Esse acontecimento traumático, nos relembra de nossa responsabilidade ao compartilharmos conteúdos na internet. Muitas vezes, compartilhamos mensagens no automático. Então, ao compartilhar, devemos, antes, nos questionar: "Isso expõem alguém?, E se fosse comigo ou com alguém que conheço?". Lembrei daquele meme que talvez vocês também já assistiram, da senhora tentando dizer "Youtube". Ela tenta dizer uma palavra que é em inglês e não consegue dizer do modo como ela tem sido evocada usualmente no Brasil. Esta mulher, na sua simplicidade, tenta pronunciar do modo que o "filmador" deseja. 

O limiar entre um meme meramente engraçado e um meme engraçado que fere alguém é muito tênue, difícil até de prever seu efeito. Mas o que importa é refletirmos sobre isso, de não cairmos num automatismo individualista, quando apenas se repete por repetir, sem considerar a alteridade. Do ponto de vista da psicologia, a pergunta que cabe é "por que rimos?". Rimos por que o meme, uma piada ou outras formas de humor dizem algo sobre nós mesmas, quando reencontramos algo na nossa história de vida, usualmente da infância. 

Sigmund Freud já nos falava sobre isso, quando escreveu "Os chistes e sua relação com o inconsciente" (1905) e também "O humor" (1927). Em uma palavra, se dar a conotação completa, chiste é "gracejo"; não é o mesmo que piada.  à parte das diferenças desses dois constructos, podemos simplificar dizendo que ambos entram em cena se algo que é dito toca nos nossos desejos insabidos (aquilo que nos é impossível conhecer, usualmente traduzido como "inconsciente"). O humor, salienta Freud, "não é resignado, mas rebelde. Significa não apenas o triunfo do ego, mas também o do princípio do prazer, que pode (...) afirmar-se contra a crueldade das circunstâncias reais" (p.191). Ele nos possibilita levar ou lidar, de um modo mais leve, com aquilo que nos toca, que mexe com a gente. As piadas que envolvem morte é um exemplo disto. 

O humor nos salva, de um certo modo, de viver uma vida dura, sem graça. Por outro lado, se nosso humor nos salva, ele pode também ferir ou até matar um outro (e a nós mesmas, se formos nós o alvo de memes, por exemplo). Resulta daí, o que chamei atenção no início desta postagem, a nossa responsabilidade ao partilhar memes. 

Não estou a dizer para acabar com os memes, nem com o senso de humor, é lógico. Já ouvi algumas pessoas dizerem a mim e a amigas "Mas você não tem senso de humor'!". Não é disso que estou falando. Podemos ter senso de humor, rir à vontade. Precisamos usufruir do prazer humorístico, já alertou Freud. 

Não somos apenas "instinto"; as pulsões agressivas escapam, é certo, mas, ao mesmo tempo, somos seres capazes de refletir. 


Sugestão de Leitura: 

FREUD, S. O humor (1927\1980). In Edição Standard Brasileira , Obras Psicológicas Completas (v. XXI). Rio de Janeiro: Imago.


 Lemos, Vinícius (1 set. 2021). Da BBC News Brasil em São Paulo. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-58351743?at_medium=custom7&at_custom3=BBC+Brasil&at_custom4=B45D1468-0B14-11EC-AAF9-17C1BDCD475E&at_campaign=64&at_custom1=%5Bpost+type%5D&at_custom2=facebook_page&fbclid=IwAR3LFe4Af7ojtJK9UJBjxBP8FLXIAgesN1d0ZLHV-1t_aRbVfXhB5xDvXQE

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