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SETEMBRO AMARELO: Para falar sobre saúde mental é necessário analisar a situação política e social

 



Por Gabriela Quartiero*

 

Parece que é óbvio pensar que a nossa estrutura social adoece, porque isso é jogado na nossa cara diariamente, mas, ao mesmo tempo, nas campanhas de prevenção ao suicídio, como “Setembro Amarelo” o que mais é trazido é “a depressão não ter cara e classe social”. 

É a partir disso que quero começar a reflexão. Sim, depressão não tem cara e nem classe social. Porém precisamos analisar o contexto social em que estamos inseridas/os. Vivemos em uma sociedade capitalista que é estruturalmente patriarcal, machista, sexista, xenófoba, LGBTIfóbica, racista, entre tantos outros preconceitos que existem. Uma sociedade que cultiva o ódio. E, atualmente, a realidade política no Brasil está criando situações e promovendo um cenário que força as pessoas a terem que resistir para poder sobreviver; são nesses casos que ouvimos uma frase muito clássica e difundida: “Não podemos parar pra pensar nisso, tenho só que fazer”. 

É essa realidade que adoece. Não ser proporcionada uma educação plural, empregos, um sistema de saúde gratuito que seja de qualidade, moradias e espaços de lazer, isso desestabiliza a vida das pessoas. Além da pandemia e do desemprego, estamos em meio a uma votação da reforma trabalhista, que retira direitos fundamentais para as/os trabalhoras/es, ou seja, a situação se resume em: se você quer ter um emprego, você terá que se submeter a qualquer coisa. Há alguns dias, o presidente do Brasil falou que é “idiota” quem quer falar em comprar feijão e não fuzil**. Como manter uma saúde mental estável com tudo isso acontecendo?

A fome mata. O desemprego e as duras realidades de trabalhadoras/es adoecem. A negligência com a saúde pública propicia o desespero. Ter uma casa seria o básico.       

O mais cruel é que a sociedade romantiza os sacrifícios que as pessoas necessitam fazer para sobreviver e, se elas sobrevivem à miséria, são consideradas guerreiras.  Precisamos refletir sobre isso e ver que essas situações impactam a saúde mental de toda uma parcela da população e, consequentemente, afeta cada um de nós.

 

*Gabriela Quartiero, psicóloga, mestranda em Psicologia no PPGP/UFSM e ativista em movimentos sociais. Luta para mostrar que a Psicologia encontra-se em todos lugares e que, principalmente, precisamos levar a Psicologia para todos os espaços. Acredita que analisar a conjuntura política, econômica e social é imprescindível para se pensar saúde mental. 
** V
eja em: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/bolsonaro-chama-de-idiota-quem-defende-comprar-feijao-em-vez-de-fuzil-e-fala-repercute/

Créditos da arte: Buena Onda - Consultoria Criativa

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