Um novo ambiente se instaurou no Brasil, e em grande parte do mundo, modificando as
rotinas estabelecidas em termos de trabalho, relações sociais, afetivas, econômicas, hábitos de
vida, convívio e cuidados destinados aos filhos. Essas mudanças, abruptas, devido à
suspensão relativa das atividades sociais, econômicas e de cuidado constante em relação a
saúde, se alteraram desde que a pandemia da Covid-19, causada pelo novo coronavírus
SARS-COV-2, foi identificada. A pandemia se propagou em um cenário marcado pela
iniquidade de gênero, econômica e social, e pela polarização política. Pode-se observar a
intensificação das desigualdades na experiência da maternagem onde as mulheres precisaram
enfrentar o desafio de conciliar os cuidados com os filhos e responder às exigências
domésticas e profissionais marcadas por restrições do distanciamento social. O objetivo geral
da pesquisa foi compreender as experiências de maternagem, analisando os efeitos da
pandemia da Covid-19 na subjetividade de mulheres que se tornaram mães. Com base em
uma psicologia social crítica, construiu-se o método de pesquisa e as análises. Utilizou-se os
seguintes meios para a construção do corpus de pesquisa: foram utilizadas as seguintes
técnicas de pesquisa: (a) Questionário Sociodemográfico, (b) Questionário sobre Experiências
de Maternagem na Pandemia Covid-19, (c) Grupo de Escuta online, durante a pandemia
(2021) (d) Diário de Campo e (e) entrevistas narrativas pós-pandemia (2023). Para as análises
e interpretações recorreu-se, à teoria Winnicottiana, à teoria feminista e à proposta de René
Kaës sobre grupos. Ao todo, foram acessadas 22 mulheres que se tornaram mães na
pandemia, destas 8 participaram do Grupo de Escuta. Pode-se perceber que o distanciamento
social dificultou o acionamento de redes de apoio e que ocasionou uma sensação de
desamparo e solidão na busca por tornarem-se mães suficientemente boas, por isso relataram
situações de sobrecarga e de dificuldades em administrar as demandas pessoais e profissionais
com os desígnios provindos da maternidade. Além disso, mostram a importância de redes
coletivas que possam dar amparo para à experiência singular de ser mãe em um ambiente
pandêmico, pois pode-se observar, tanto no grupo como nas entrevistas, que essas mães
sentem a necessidade de contar sobre essa experiência em contextos grupais, onde
interlocuções coletivas potencializam a tessitura de significados e as auxiliem nos impasses e
reinvenção de uma maternagem “suficientemente boa” mesmo em um ambiente traumático.
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